sábado, 15 de agosto de 2009

Portugal Informático. (Se Portugal fosse um (bom) programa informático!) – Urbanismo

Continuando o meu périplo por várias áreas, deixem abordar agora outro que me é querido.
Todos os dias somos confrontados com várias aplicações informáticas ou sites. Destes, há definitivamente alguns deles que nos chamam a atenção, seja pelo grafismo, o som, enfim, o “look”. Todos ambicionamos ter uma aplicação que faça a mesmas operações que a nossa “velhinha aplicação” (seja ela qual for) mas que seja mais agradável, mais fácil e apelativa. Infelizmente (e todos temos alguma destas experiências) a primeira impressão e as expectativas por ela criadas, por vezes não são correspondidas quando são avaliadas em mais detalhe (e em alguns casos mesmo nas operações mais básicas). Outras vezes embora no âmbito geral a maioria das operações estejam bem ou relativamente bem tratadas, várias outras operações são “arrumadas a um canto”.
O paralelismo entre este mundo informático e a nossa realidade acontece quando compararmos com a nossa cidade de Braga. O slogan “É bom viver em Braga” foi sendo ao longo dos anos repetido até à exaustão. A alicerçar este slogan estão sem dúvida várias mais-valias da nossa cidade, o nosso património histórico, arquitectónico e religioso, o preço “baixo” da construção (face a outros pontos do país) uma razoável rede de transportes públicos, o comércio local e as grandes superfícies (a reboque do título de “Capital do Comércio”). A estas junta-se ainda a grande zona pedonal no coração da cidade.
No entanto, se virmos também com mais detalhe, podemos facilmente encontrar várias lacunas crassas. O comércio local de facto nada tem de nosso (bracarense), esmagado pela quantidade surreal de grandes superfícies, a larga maioria das lojas comerciais são de roupas (ou como diz o meu avô – “trapos”) e em grande parte franchising igual a tantas outras por esse mundo fora. Associada a esta questão está a desertificação do centro. São inúmeras em todo o centro urbano, ruas cheias de casas vazias de vida real (de famílias) literalmente abandonadas, de pé apenas pela existência de uma loja de rés-do-chão e que morrem a cada entardecer com o fechar dessas lojas.
Há falta de espaços verdes para passear, relaxar. A zona pedonal embora grande e agradável, rapidamente vê a sua área esgotada e se revela pequena a cada noite ou fim-de-semana de Verão. Para além disso, no meio de tanto frenesim, de relaxante tem tanto como o S. João. Onde podemos por exemplo sentar-nos a ler um livro debaixo de uma sombra, mergulhados apenas nas ondas da leitura? O parque de S. Joao da Ponte tem visto o seu plano de revitalização sendo “adiado” desde que me conheço, mas embora necessário e óbvio, a sua localização é demasiado afastada do tão badalado centro (para além disso resta-nos apenas o Bom-Jesus, mas isso não é resultado da acção dos governantes). Ao longo de todos estes anos, não foi possível idealizar e criar um espaço verde na cidade?
Durante muito tempo, existia (e ainda existe) o estigma de viver num bairro social. Várias famílias foram realojadas em habitações que garantiam condições de habitabilidade, mas a partir daí foram abandonadas à sua vontade e aos seus problemas de sempre. Houve um objectivo claro de integração?
E que dizer na nossa programação cultural? Com frequência vemos os espectáculos acontecerem em Guimarães, V.N. de Famalicão, S. M da Feira, Porto…e porque não em Braga? A cultura é como os vegetais se não os comermos em criança (mesmo que obrigados) nunca os iremos comer quando formos adultos. E que geração de bracarenses será esta, privada de bailados, concertos, óperas,…?
Não podemos continuar a limpar apenas a fachada quando já se vêm as rachadelas no resto da casa. A nossa cidade precisa de mais. A necessário apostar na revitalização do centro urbano seja, pela instituição de uma política consistente de arrendamento, seja pela reestruturação ou reconstrução de muitas dessas casas (veja-se por exemplo a cidade de Guimarães). A integração das pessoas tem que ser uma prioridade, principalmente numa cidade onde por exemplo os imigrantes de leste têm tamanha representação e onde a pobreza prevalece à margem.
É necessário humanizar os bairros sociais e torna-los “pertença dos seus habitantes”.
É fundamental educar as pessoas para a cultura e alargar horizontes
É bom viver em Braga? Sim, à primeira vista sim, mas e para os bracarenses?
Eduardo Silva

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